Beber leite: sim ou não?


Desde há muitas gerações que o consumo de leite tem sido recomendado para todas as idades.

O teor de cálcio, fósforo, magnésio, proteínas e vitamina B1 fazem do leite um ótimo alimento e o seu consumo diário sempre foi recomendado pelas mais reputadas organizações internacionais.

No entanto, nos últimos tempos, tem surgido uma corrente de especialistas que defende que o consumo de leite pode acarretar alguns riscos para a saúde.

O assunto é controverso e há estudos científicos que indicam benefícios e outros que apontam em sentido contrário.

As opiniões dividem-se e esta é uma discussão que divide médicos e nutricionistas.  

Amamentação

Na qualidade de mamíferos que somos, o leite é de facto um alimento fundamental para o nosso desenvolvimento nos primeiros anos de vida.

Um bebé quando nasce deverá ser amamentado até aos 6 meses ou idealmente até aos 12 meses de idade, período em que, segundo a Organização Mundial de Saúde, será de extrema importância o consumo deste alimento.

No entanto, efetivamente, o ser humano é o único animal que continua a beber leite na idade adulta e ainda para mais leite que não é o da sua espécie.  

Quais são os argumentos contra?

Além da intolerância à lactose (associada a diarreia, cólicas e gases), os estudos indicam também relação com o aumento do risco de doenças cardiovasculares (pelo teor de gordura saturada) e aumento do fator de risco para o desenvolvimento de vários tipos de cancro.

O leite tem também uma série de compostos bioquímicos e hormonais que vão ter ação direta sobre o organismo, sendo a principal fonte de galactose, que provoca stress oxidativo (associado ao processo de envelhecimento), inflamação crónica, neurodegeneração e menor resposta imunitária.  

Quais são os argumentos a favor?

O leite de vaca continua a ser uma importante fonte de nutrientes, especialmente devido à sua composição proteica e mineral, sendo uma fonte indiscutível de cálcio. Em relação às vitaminas, o leite é rico em biotina, vitamina A, B2 e vitamina D.

Pensa-se ainda que a ingestão de leite ajuda a melhorar a qualidade do sono por conter triptofano, aminoácido associado à produção do neurotransmissor serotonina que, por sua vez, é usado na produção de melatonina, hormona do sono.  

Intolerância à lactose?

De salientar a diferença entre intolerância à lactose (incapacidade de digerir o “açúcar do leite” devido à deficiência ou ausência da enzima lactase) e alergia às proteínas do leite de vaca (reação do sistema imunitário que provoca libertação de anticorpos e outros agentes defensivos).

Segundo a Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia, cerca de um terço da população portuguesa sofre de intolerância à lactose.

No caso de ser intolerante à lactose, a ingestão de iogurte ou queijo é na maioria dos casos viável, na medida em que o processo de fermentação do leite reduz significativamente o seu teor de lactose.

Como alternativa podem ser consumidas bebidas de origem vegetal: soja, amêndoa, arroz, aveia.  

Ingestão de leite VS osteoporose

Segundo a Direção Geral de Saúde, a osteoporose afeta em Portugal mais de meio milhão de pessoas, essencialmente mulheres.

Uma das razões mais conhecidas para bebermos leite e ingerir produtos lácteos, é a redução da osteoporose e consequentemente diminuição do número de fraturas ósseas, devido ao cálcio.

Mas, de facto, existe pouca evidência que o consumo de leite esteja associado a uma redução de fraturas.

Em países onde o consumo de leite é quase nulo (muitos países asiáticos), estes apresentam números muito baixos de fraturas.

Um estudo clínico que decorreu durante 12 anos em 77 761 mulheres entre as idades de 34 a 59 anos (Harvard Nurses Health Study), demonstrou não existir evidência que suporte que o consumo aumentado de leite é proporcional a uma diminuição de fraturas ósseas.  

Aporte de cálcio

Relativamente ao aporte de cálcio para o organismo, além do leite e derivados, este também se encontra presente em quantidades consideráveis nos vegetais de folha verde escura (brócolos, espinafres, agrião), alho, fruta (kiwi, laranja, tangerina), feijões, sementes (sésamo, chia, linhaça girassol) e oleaginosas (amêndoas, nozes, castanhas do Brasil).

De modo a construir e manter ossos fortes e saudáveis é de extrema importância a ingestão de vitamina K (vegetais verdes), vitamina D (necessária exposição solar), cálcio (pela alimentação ou através de suplementos) e a prática de exercício físico regular.

Para uma escolha consciente quanto à ingestão ou não de leite, fale com o seu nutricionista.

Só assim é possível avaliar e indicar qual a melhor estratégia alimentar a seguir e ter a garantia de um acompanhamento personalizado e adaptado às suas necessidades específicas.

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